quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Resenha - Sobrevivente, de Chuck Palahniuk

"Por favor, apertem os cintos enquanto começamos nossa descida para o terminal do esquecimento."

Nos capítulos e páginas de Sobrevivente são numerados de trás para frente. Se em Clube da luta o autor Palahniuk fala sobre ****** e *****, ****** ** *** ****** *****. Em Sobrevivente  o alvo do escritor americano é o fanatismo religioso, seitas, e a sociedade com sua estupidez e decadência.



O personagem principal se chama Tender Brason que está a preste a cometer um suicídio  dentro de um avião que ele sequestrou, o avião esta em pleno voo e em breve quando acabar o combustível vai estar em queda livre, durante esse tempo Brason conta sua história de vida que está sendo gravada na caixa preta. E o último sobrevivente de uma seita religiosa e fanática dos EUA em que todos os seguidores cometeram suicídio para a "libertação", sendo assim ele virou uma celebridade, trabalha também incentivando o suicídio de pessoas.

"Se os membros da igreja da comunidade forem chamados por Deus, se alegre. Quando o apocalipse era iminente, celebrar,  todos os crentes devem entregar-se a Deus, amém.

E você tinha que seguir.
 

Não importava a distancia. Não importa quanto tempo você estava trabalhando fora da igreja da comunidade. Como o acesso a qualquer transmissão era proibido, poderia levar anos para que todos os membros da igreja soubessem mais sobre a libertação. Siga a doutrina da Igreja, a fuga para o Egito. A fuga para fora do Egito. As pessoas estão o tempo todo correndo de um lugar para outro na Bíblia.

Você pode não saber por anos, mas o momento em que você descobriu, você tinha que encontrar uma arma, beber um pouco de veneno, afogar, cair, se cortar ou pular.
 

Você tinha que entregar-se para o céu. "



Além disso, ele é viciado em sexo, tem mania de limpar sêmen e sangue de roupas e tem como seu melhor amigo um peixe alimentado com Valium (mas o que porra é Valium? é um remédio combate os sintomas da ansiedade). 

 


 


Survivor
versão americana


Brason é mais um anti-herói construido por Palahniuk (assim como Tyler Durden de Clube da luta) tem uma mente bem perturbada, desde de sua infância e adolescência quando vivia na comunidade de fanáticos religiosos com sua família, e já viu né... não é por nada não.... mas crescer em uma família dentro de uma comunidade fundamentalista cristã e além tudo fanática, com limites e mais limites impostos, em relação a quase tudo, entre eles a restrição radical do sexo, o que explica até (eu acho) o vicio sexual de Brason na sua vida adulta. Uma sociedade limitada somente conhecimento religioso só tende a afundar cada vez mais em suas merdas, onde a salvação está em seu líder, seguindo todas suas regras (Jesus por exemplo).Quando um indivíduo como Brason é jogado na realidade da vida só tende a fracassar.

"É noite, as ligações são iguais ás de todas as noites. Lá fora a lua está cheia. As pessoas estão prontas para morrer por conta de notas ruins na escola, dos problemas familiares, problemas com o namorado, dos empregos idiotas. E eu apenas digo… se mate… se mate…
e esse é meu trabalho de conselheiro para suicidas, uma vez uma menina liga e pergunta: “Dói muito para morrer?”
"Bem, querida," eu digo a ela: "Sim, mas dói muito mais para continuar vivendo."

Como todo livro de Palahniuk o humor negro e o sarcasmo estão presentes, o livro é narrado pelo próprio Brason e são vários os momentos de humor e estupidez em referencia a religião, Brason reconhece isso em momentos de bipolaridade.


"Você nunca viu um Jesus no crucifixo que não estivesse quase pelado. Nunca viu um Jesus gordo. Ou um Jesus peludo. Em todos os crucifixo que você viu nada vida Jesus parece está fazendo propaganda de uma calça jeans de marca ou perfume masculino"

"O Paraíso dizem os escritos é um bufê de bocetas

O Paraíso é levar no rabo

Vá para o inferno, veado

Já estive lá

Vá a merda

Já fiz isso"

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Ali está meu exemplar brasileiro de Sobrevivente (juntamente com Factótum do velho Buk e Mystic River de Lehane)

Brason também conta como conheceu Fertility, mulher que mudou sua vida após atender o telefonema do irmão dela que queria cometer suicídio. Eu realmente gostei dos trechos de Fertility, ao ponto de se apaixonar por ela. Aliás Ferlitiy faz lembrar em alguns momentos Marla Singer de Clube da Luta (outra mulher que Palaniuhk descreve muito bem). Deixei uns trechos sobre Fertility logo abaixo:

"Sua voz me faz pensar em sua boca que me faz pensar em sua respiração que me faz pensar em seus seios."

"Segundo Fertility Hollis, o caos não existe. [.....] Outros passageiros com coletes salva-vidas, passavam pelas janelas e observavam com olhos arregalados a Fertility e Trevor valsando dentro do salão enquanto o navio começava a afundar.

Então Fertility e Trevor eram os últimos passageiros a bordo do SS Ocean Excursion, valsaram pelo assoalho de mogno inclinado, o salão de dança Versailles mais e mais inclinado a medida que a proa afundava e a popa tirava as quatros hélices do motor da água para o ar noturno, valsavam pela lenda de uma civilização perdida.

Você não tem ideia de como aquilo foi lindo. É a recordação mais linda da minha vida, disse Fertility."

"Fertility e seus olhos cinzas entediados como o oceano
Fertility com sua respiração de suspiros exaustos".

A leitura de Sobrevivente é bastante recomendada, como eu já disse a história é cheia de sarcasmos, momentos de reflexão, humor de modo que a leitura flui rápido. Acabo por aqui

Amém! E saudades Fertilty....

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Resenha "Bellini e a Esfinge", de Tony Bellotto

"Qualquer um que começasse a procurar evidências de insanidade mental em
si mesmo iria com certeza encontrar muitas, porque todos, a não ser os
imbecis, tinham mentes confusas."

 


"Quem é Ana Cíntia Lopes? Por que Camila e Dinéia sumiram? O que deseja Fátima? Por que Fabian segue Pompílio? Quem matou o doutor Rafidjian? Qual o segredo de Beatriz? As perguntas acumulam-se na cabeça do detetive Remo Bellini enquanto ele percorre o submundo da cidade de São Paulo em busca de respostas. Aos poucos, os mistérios vão se desvendando de forma surpreendente, até que a decifração do enigma final deixa Bellini perplexo, com um gosto horrível na boca."

Sou fã do gênero noir e todos os mistérios que envolve os casos. Tive o prazer de ler Arthur Conan Doyle,  Dashiell Hammett, Raymond Chandler, e claro meu escritor favorito Dennis Lehane. Estava na hora de conhecer e literatura brasileira desse gênero, e comecei por Bellini e a Esfinge, de Tony Belloto (autor e também musico dos Titãs). Quando vi o livro fiquei surpreso ao  saber que Tony tinha escrito, desde então passei a acompanhar seus textos blog no site da Companhia das Letras, o cara é foda. Lembrando que "Bellini e a Esfinge" é o primeiro de uma sequencia de livros que conta a história de Bellini, o detetive mais implacável da cidade de São Paulo. "Bellini e os Espíritos", "Bellini e o Demônio" e o mais novo lançamento "Bellini e o Labirinto".

A história de "Bellini e a Esfinge" é narrada em primeira pessoa, do mesmo jeito da serie do casal de detetives Kenzie&Gennaro de Dennis Lehane. Bellini trabalha com uma assistente, porém não chega nem perto da quimica de Kenzie e Genaro, além disso o detetive brasileiro não tem sua própria agencia, ele trabalha para Dora Lobo. Nesse caso Bellini irá investigar o desaparecimento de uma prostituta chamada Ana Cíntia Lopes.

A narrativa com os detalhes de suas investigações é boa, e a leitura flui fácil. Bellotto usa uma linguagem bem suja, isso bom na hora de descreve os trechos em relação ao sexo e a noite da cidade de São Paulo. Bellini é rodeado de mulheres, por falar em linguajar sujo.. o cara é um típico comedor,  ele se envolve mesmo é com Fátima, uma prostituta misteriosa que Bellini conhece. Paralelo a isso (ou não) ele tenta envolver seu caso junto com sua assistente, no submundo das drogas e prostituição de São Paulo.

 
Em 2001 o livro foi adaptado para o cinema, e olha só..... Malu Mader (mulher de Tony Bellotto na vida real) fez o papel da prostituta Fátima, segundo ela o desejo de fazer a personagem era grande. Não cheguei a ver o filme, pelas criticas é um filme regular, recebeu o Prêmio do Público de Melhor Filme de longa-metragem de ficção...not bad.

Enfim recomendo a leitura, livro é pequeno...leitura flui de maneira rápida. Acabo por aqui a resenha, acho que esqueci de alguns detalhes pois não tenho livro em minhas mãos.

sábado, 9 de agosto de 2014

"É uma questão de interesse." entrevista de Lehane para o The Talks

Falei do excelente trabalho de Dennis Lehane aqui no blog e também falei seus livros. Ultimamente ele concedeu uma entrevista sobre suas obras, entrevista excelente:



 

 Dennis Lehane


-Sr. Lehane, o autor de romance policial francês George Simenon disse certa vez: "A vida sangrenta é melhor do que um casamento chato." Você concorda?

Lehane: Não, eu concordo com o que disse Flaubert, que foi: ". Seja burguês e entediante em sua vida, para que você possa ser violento e apaixonado na sua ficção

 
-Bem, você certamente ter sido violento em seus livros. Na primeira cena de seu livro recente "Live by Nigth" , o personagem principal tem seus pés colocados em uma banheira de cimento e está prestes a ser lançada ao mar ... O que é importante saber ao escrever um épico livro de gangsters?

Lehane: Eu acredito que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Stephen Crane escreveu The Great American War e ele nunca foi a qualquer lugar próximo a um campo de batalha. Para escrever sobre um gangster, ou qualquer coisa, você não começa com o bandido, mas com a pessoa. Então você entra em seu trabalho.
 
-Quanto de um assassino existe em qualquer um de nós?

Lehane: É as vezes, é as circunstâncias. Para ser honesto, é o que eu chamo de a 'questão alemã'. Vamos supor que, após a Primeira Guerra Mundial, não existe Hitler e toda uma geração de alemães atravessa o mundo pensando que eles são a moral, que eles estão em pé. Eles não se tornam guardas do campo, nenhuma dessas coisas acontece. Acho que as pessoas são tão moral com as pressões e as circunstâncias que estão ao seu redor e poucos grupos já tive de realmente olhar para ele na cara. A questão alemã é o mesmo que o Ocidente Pergunta quando essas pessoas vão parar de liquidar o oeste americano e massacrar um povo indígena. Olhe para as piores pessoas na história do mundo, as piores pessoas que podemos pensar, eu diria apenas Joseph Stalin acordou e disse: "Eu sou o mal.

-Você tende a ver o melhor nas pessoas?

Lehane: uma linha que eu coloco em um dos meus livros, que eu acho que é a linha mais reveladora sobre mim. Alguém diz: "Seu problema é que você vê o melhor do pior das pessoas, e o pior na melhor das pessoas." E isso é o meu tipo de visão da humanidade. Se você indicar alguém e dizer: "Isso é um ser humano terrível:" Eu interpreto como, "Sério? Eu tenho que ir falar com ele." Mas se você diz:" Essa pessoa é um santo." Eu vou andar em outra direção, porque eu não acredito em você.
 

-O que faz você odiar alguém?

Lehane: Eu realmente não odeio ninguém.

-Sério?

Lehane: Cheguei perto. Eu não gosto intensamente de alguém, mas "se odeio" é uma definição muito simples: a odiar significa que você levaria alguém para a frente de um caminhão em movimento. Eu não sou chego a esse ponto. Eu poderia posicionar-se de modo que o caminhão teria atingido uma poça e que poça iria cair em você.

-Você acredita em vida após a morte?


Lehane: Se há uma vida após a morte já estamos lá. Não há tempo. Então, se seu ente querido está morto, não está sentado lá em cima sozinho. Você já está com eles, porque o tempo é tão rápido [estala os dedos]. Além disso, eu acredito que tudo o que está lá fora no universo, o meu sentimento é que é benevolente. Há uma teoria do século XX que diz que o inferno não é fogo, o inferno é a ausência de Deus.
 

-Você cresceu educado por freiras e jesuítas. Isso foi uma boa preparação para uma carreira como escritor?

Lehane: Sim, com certeza. Filosofia fundacional dos jesuítas é: para cada resposta há uma outra questão. Essa é uma maneira muito boa para um dramaturgo de abordar as coisas. Impede de simplificar demais.

-Seus livros Mystic River, e Shutter Island tudo passou a ser adaptado em grandes filmes. Você já pensou sobre essa possibilidade, enquanto você está escrevendo, dado o quão provável é?

 
Lehane: Nunca quando estou escrevendo ... Talvez na parte de trás, para trás, de trás do meu cérebro de lagarto. Eu não posso ignorá-lo neste momento, sabendo que em Hollywood estão sob a suposição de que eu tenho algum tipo de toque de deus.
-As pessoas dizem que Clint Eastwood ligou para você sobre a adaptação Mystic River, e foi tão rápido como ele disse: "Posso?" Você disse: "Sim, você pode!"

Lehane: Não foi tão rápido, mas estava perto. Ele me ligou nessa semana e disse que queria fazê-lo. Eu disse que não queria vendê-lo. Tivemos mais um par de telefonemas e ele convenceu-me e então eu vendi. Não havia mais ninguém envolvido no processo, exceto eu e Clint.

-Eu li que o seu romance Live by Night também está sendo adaptado para o cinema, com Ben Affleck como diretor.

Lehane: Verdade.
Eu vi o roteiro, é um bom roteiro, mas só vai acontecer quando agenda de Ben permitir. Ele está fazendoBatman agora, então vamos ver o que acontece ...
Live by Night você olhou profundamente na vida e hábitos de gângsteres nos anos de proibição da América. Muitas pessoas diriam que esses anos não foram América do pior.

Lehane: Deus não, o contrário. Os benefícios que saíram da Lei Seca foram: A Era do jazz, e como nunca o jazz floresceu; a libertação das mulheres, as mulheres foram de repente cruzar limites que nunca poderia ir;  e isso nos deu um verdadeiro senso de identidade de libertação. As pessoas diziam: "Sinto muito, não vamos fazer isso." Esta é a desobediência civil em escala nacional. Por outro lado, deu uma coisa muito feia para os Estados Unidos, gerando poder ao crime organizado - é o crime organizado. Isso foi negativo, sem dúvida.

-Você provou a si mesmo como um escritor no gênero crime. Você seria capaz de escrever um romance bom assim? É uma questão de talento?

Lehane: É uma questão de interesse. Meus interesses puxam-me para questões sobre violência, questões sobre classe, perguntas sobre os ricos contra os pobres. Estas não são coisas que necessariamente iria me puxar para escrever uma romance. Então, não, não é uma questão de talento. É uma questão de paixão, é uma questão de interesse.

-Você escreveu o seu primeiro livro Um Drink Antes da Guerra, em poucas semanas e então esperou para publicá-lo por vários anos. Como você teve a paciência de esperar tanto tempo?

Lehane: Eu não estava doente, eu tinha 25 anos e estava entediado! Eu não tinha nenhum poder, eu não tinha uma editora, eu não tinha um agente - Eu não tinho nada. E então, quando eu finalmente obtive um editor, ela me fez reescrever toda a coisa de qualquer jeito. Foi um grande editor, tivemos um ótimo relacionamento desde então.

- Gone with the Wind foi famosamente rejeitada por editores 17 vezes antes que ele foi publicado.

Lehane: Catch-22 foi o mais famoso. Acho que Catch-22 foi rejeitado por todas as grandes  Nova York, e todas as pequenas também, e, em seguida, tornou-se Catch-22.

-Isso nos dá esperança.
 




sábado, 2 de agosto de 2014

Resenha: O Último Trem de Hiroshima de Charles Pellegrino

Leitura essencial

"Se vocês estivessem aqui naquele dia e naquela hora, teriam visto o inferno que se abriu na terra diante de seus olhos. Se pudessem ter dado uma olhada, vocês nunca, nunca alimentariam essa ideia louca de outra guerra. Se houver outra guerra, bombas atômicas podem explodir em todos os lugares, e não vai mais haver lindas canções sobre a Terra distante, sobre outros planetas. Não haverá poemas, nem pinturas, nem música, nem literatura, nem pesquisas. Somente morte".  Takashi Nagai 




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 "The "shadow" of a Hiroshima victim, permanently etched into stone steps, after the 1945 atomic bomb"

Uma leitura extremamente emocionante, e ao mesmo tempo essencial. A sabedoria e os ensinamento de Tsutomu Yamaguchi  (um sobrevivente duplo da tragédia), escapou da primeira bomba em Hiroshima, lá permaneceu um tempo em um abrigo pois sofreu algumas queimaduras. Voltou para sua cidade natal Nagasaki, justamente onde caiu a segunda bomba, mais um vez Yamagushi conseguiu escapar. Hoje ele dá palestras em todo o mundo falando de sua filosofia de vida e dos males que a guerra trás para a humanidade.


 
  Tsutomu Yamaguchi


A histórias contadas no livro são fundamentais para nossa compreensão do que foi a tragédia de Hiroshima e Nagasaki . Em boa parte do livro, Charles Pellegrino coloca o leitor dentro do inferno e o caos que foi o momento das bombas, através de documentos oficias e dos depoimentos relatados pelos sobreviventes do ataque. Relatos que são bastante fortes, o difícil  sofrimento que os japoneses passam até hoje, muitos morreram com câncer décadas depois do ataque. Muitos escaparam das bombas, devido os abrigos anti-bomba e muitos não tiveram a mesma sorte, os corpos praticamente sumiram em um segundo ou viraram cinzas que rapidamente foram levadas pelo vento. Sem falar dos monstros jacarés (vitimas que tiveram boa parte do seu corpo coberto por queimaduras).

O livro é recomendado, apesar de em vários momentos eu tive que parar a leitura para me recuperar do que tinha lido, até pensei em abandonar, mas logo vi que era essencial saber o que ocorreu, principalmente saber dos ensinamentos que alguns sobreviventes passam, alias a filosofia de vida dos japoneses é algo fascinante. Espero que James Cameron volte com sua ideia faça mesmo o filme.